domingo, 26 de setembro de 2010

Oficina de sentimentos

Caros amigos,
Aí vão os textos utilizados na Oficina de Sentimentos de 24/09/2010.
Abraços à todos!

O Malfeitor

Terminada que foi a tarefa de evangelização no templo espírita, a que emprestávamos concurso fraterno, acompanhei Anísio Terra, amigo espiritual de muito tempo, que me dissera estar encarregado por alguns instrutores de socorrer um moço obsesso, ameaçado de colapso nervoso naquela mesma noite. Por espírito de aprendizado, dispus-me a seguir o companheiro que se postara rente a dois cavalheiros bem-postos, distintos irmãos encarnados, que Terra me designou pelos nomes de Noronha e Silva, conhecidos dele e freqüentadores da casa.
Atento ao hábito de cooperar sem perguntar, acomodei-me, ao lado de Anísio, no ônibus que levava os dois senhores, que passaram a entretecer curioso diálogo.
- Creia que fiquei emocionado com a preleção evangélica de hoje. Há muito tempo não ouço um orador emitindo conceitos tão felizes em torno da caridade – falou Noronha, comovido.
- Sem dúvida... – respondeu Silva, reticencioso.
- Não acha você que os Bons Espíritos nos falaram por ele, induzindo-nos à piedade?
- Que quer dizer com isso? – disse o outro em tom de mofa.
- Nosso plano para esta noite...
- Será cumprido.
- Mas, você compreende... Existem muitos caminhos para o reajuste de alguém, sem violência, sem escândalo.
- Ora essa! Você está com um malfeitor dentro de casa, como tudo indica, entre os próprios empregados, e desiste de pôr a coisa em pratos limpos?!...
- Sim, sim... É preciso pensar. Provoquei a viagem de minha mulher, dei férias aos quatro, comunicando a eles que me ausentaria ao encontro dela, a partir de hoje, na convicção de que o autor do furto, do mês passado, venha a surgir agora, já que guardaríamos silêncio e procuramos sair de novo, mas, depois de ouvir a preleção evangélica...
- Que é isto, homem de Deus? O Evangelho não aplaude roubalheiras...
- Mas nos chama à caridade uns com os outros.
- E a cadeia não é caridade para o delinqüente?
- Oh! Silva, não diga isso!... Por amor de Deus!...
- Você não recuará. Sou eu quem não deixa.
- Não será melhor esperarmos a criatura infeliz com a palavra do Evangelho? Se orarmos, pedindo o socorro de nossos guias, não será mais justo que solicitar a intervenção da polícia?
- Não, não me venha com essa! Você é meu cunhado e os valores de minha irmã que desapareceram são bens de família. Assumo a responsabilidade. Defenderei vocês dois e não retrocedo no que foi resolvido. E, consultando o relógio, Silva acrescentou: - São mais de dez horas. Entraremos no escuro, ficaremos no quarto contíguo à alcova do cofre e, se o ladrão ou a ladra aparecerem, permitiremos que comece a revistar os guardados e, assim que o biltre ou a megera se engolfarem na busca, trancaremos a porta, por fora, e, em seguida, meu caro, é o telefone e a radiopatrulha.
- Mas, Silva...
- Nada de escapatória... Malfeitores não entendem de conselhos, nem de orações, são gente criada como as bestas do campo, abandonadas aos próprios instintos... E homem ou mulher que crescem ao sabor das próprias tendências são, quase sempre, criminosos natos...
- Silva, o coração me dói...
- Não há razão para isso. Tudo faz crer que o ladrão estará entre os seus quatro empregados; precisamos averiguar quem o culpado e a polícia faz isso muito bem, sem que necessitemos punir a alguém com as próprias mãos.
- Penso que deveríamos ser mais humanos...
- Não perca tempo, filosofia tem lugar próprio.
Nesse ponto da conversa, efetuou-se a descida. Ambos os interlocutores apearam do ônibus e rumaram para a grande residência dos Noronha, enquanto nos pusemos a segui-los de perto.
Entraram à socapa, varando o silêncio e a sombra, e colocaram-se de plantão, num aposento espaçoso, vizinho da câmara estreita, em que naturalmente se localizaria o cofre da família.
Duas horas de expectativa passaram morosas, pingando laboriosamente os minutos.
Algum tempo depois de zero hora, alguém penetrou a casa... Pé ante pé, atravessou dois salões e como quem conhecia todos os cantos do largo domicílio encaminhou-se para a alcova indicada.
Mais alguns instantes de sofreguidão e, ao modo de gatos pulando no objetivo após longo tempo na mira, Silva e Noronha cerraram a porta, no lado externo, enquanto o salteador passou a gritar lancinantemente.
Fêz-se tumulto. Os dois amigos correram de um lado para outro. Acender de luzes, chamada ao telefone, pedido de urgência à radiopatrulha. Nada de atenção para com a voz angustiada, suplicando socorro.
Noronha, sensível, mostrava-se acabrunhado, ao passo que Silva, em agitação, saiu à porta de entrada, rogando a colaboração de populares, preparando espetaculosamente a recepção das autoridades.
Terra, muito sereno, recomendou-me sustentar as forças de Noronha, enquanto se dirigiria para a alcova, de modo a socorrer o prisioneiro, em acerba algazarra.
Poucos minutos e a sirene policial anunciou a chegada da missão punitiva.
Silva propunha providências e explicava pormenores, transeuntes detidos para a cooperação de emergência, renteando com os guardas, ouviam, curiosos.
De armas em punho e com avisos prévios ao malfeitor para que não reagisse, foi aberta a porta e um jovem de seus vinte e dois anos apareceu em lágrimas. Avistando Silva, atirou-se-lhe aos braços, clamando em desespero:
- Socorro!... Socorro, meu pai!...
Silva abaixou a cabeça, envergonhado. Encontrara ali seu próprio filho.
(Extraído da obra “Estante da Vida”- cap. 16 – Francisco C. Xavier/Irmão X)

A Sombria Face do Ódio

O ódio, esse famigerado adversário do ser humano, é o perverso genitor da vingança que tantos males proporciona à sociedade.
Iniciando-se na raiva, condensa-se em emoções perturbadoras que se convertem em tormentos destruidores de q                eu as criaturas terrestres ainda não se resolveram por banir em definitivo do seu comportamento.
Herança hedionda do primarismo por onde o Espírito transitou em experiências passadas, responde por terríveis males que assolam a Terra.
Guerras e terrorismo, perseguições cruéis e estúpidas, preconceitos e crimes inomináveis são frutos espúrios das suas articulações nefastas.
Nutrindo-se do cultivo dos pensamentos doentios, trabalho os tormentos defluentes da inferioridade moral do indivíduo, convertendo-se em enfermidade grave a devorar igualmente  aquele que o cultiva.
O ódio é vírus mortal que infecta as pessoas inadvertidas e as domina, tornando-as fatores de destruição onde se encontram.
O seu antídoto é o amor feito de compaixão e de amizade, que constitui recurso terapêutico legítimo para restituir o equilíbrio, a saúde moral.
Quando o ódio se instala nos sentimentos, de imediato se apresenta o desejo de vingança que, de forma alguma, proporciona a reparação do mal que lhe deu origem. No desvario que encoraja, fixa-se o anseio pelo desforço, por ver sofrer aquele que produziu dano ou aflição.
O outro, aquele que é tido por adversário, passar a ser uma figura detestada, sendo vigiada e mentalmente perseguida, sem nenhuma chance de reparação do equívoco, porque o ódio não permite ao infeliz a sua recuperação. Compraz-se em vê-lo sofre até a exaustão, numa terrível conjuntura de poder desalmado que, nada obstante, torna mais desventurado aquele que pensa estar desforçando-se, porque a sua sede de vendeta é insaciável e nada consegue diminuir-lhe de intensidade.
Normalmente, esse atormentado vingador anela pelo desencadear de múltiplas dores e angústias ou de tormentosas mortes que pareceriam aliviar as suas agruras sofridas, infligindo-as ao agendo do seu padecimento.
Quando se promove a vingança que o ódio engedra, aquele lhe padece a injunção deseja a destruição do outro matando-se também, o que é profundamente desolador e irracional.
Toda onda de inimizade que se direciona contra outrem, responde pelos transtornos que lhe dão origem.
O ser humano encontra-se programado para o amor e para a plenitude.
As dificuldades enfrentadas devem constituir-lhes estímulo para o avanço, com a natural administração das ocorrências infelizes que se lhe devem transformar em experiências de sabedoria.
A destruição do inimigo a que se odeia, não traz de volta a paz que ele roubou, quando investiu contra o seu irmão.
Constituem exemplos de dignidade e de elevação espiritual as vítimas que não se alegram com as desgraças dos seus algozes, ou que, contribuindo com a justiça, não têm como meta torná-los infelizes, objetivando somente recuperá-los sob as determinações e impositivos das leis que regem a sociedade.

(Extraído da obra “Atitudes Renovadas” – capítulo 24 – Divaldo P. Franco/Joanna de Angelis)

Aprendendo a perdoar

“Se perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vós, vosso Pai celestial vos perdoará também vossos pecados, mas se não perdoardes aos homens quando eles vos ofendem, vosso Pai, também, não vos perdoará os pecados.” (ESE Capítulo 10, item 2)

Nosso conceito de perdão tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade de perdoar. Por possuirmos crenças negativas de que perdoar é “ser apático” com os erros alheios, ou mesmo, é aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos fazem, é que supomos estar perdoando quando aceitamos agressões, abusos, manipulações e desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, como se nada tivesse acontecendo.
Perdoar não é apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou morais, não é fingir que tudo corre muito bem quando sabemos que tudo em nossa volta está em ruínas. Perdoar não é “ser conivente” com as condutas inadequadas de parentes e amigos, mas ter compaixão, ou seja, entendimento maior através do amor incondicional. Portanto, é um “modo de viver”.
O ser humano, muitas vezes, confunde o “ato de perdoar” com a negação dos próprios sentimentos, emoções e anseios, reprimindo mágoas e usando supostamente o “perdão” como desculpa para fugir da realidade que, se assumida, poderia como conseqüência alterar toda uma vida de relacionamento.
Uma das ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real é manter-nos a uma certa “distância psíquica” da pessoa-problema, ou das discussões, bem como dos diálogos mentais que giram de modo constante no nosso psiquismo, porque estamos engajados emocionalmente nesses envolvimentos neuróticos.
Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar de modo construtivo os poderes do nosso pensamento, evitando os “deveria ter falado ou agido” e eliminando de nossa produção imaginativa os acontecimentos infelizes e destrutivos que ocorreram conosco.
Em muitas ocasiões, elaboramos interpretações exageradas de suscetibilidade e caímos em impulsos estranhos e desequilibrados, que causam em nossa energia mental uma sobrecarga, fazendo com que o cansaço tome conta do cérebro. A exaustão íntima é profunda.
A mente recheada de idéias desconexas dificulta o perdão, e somente desligando-nos da agressão ou do desrespeito ocorrido é que o pensamento sintoniza com as faixas da clareza e da nitidez, no processo denominado “renovação da atmosfera mental”.
É fator imprescindível, ao “separar-nos” emocionalmente de acontecimentos e de criaturas em desequilíbrio, a terapia da prece, como forma de resgatar a harmonização de nosso “halo mental”. Método sempre eficaz, restaura-nos os sentimentos de paz e serenidade, propiciando-nos maior facilidade de harmonização interior.
Quando acreditamos que cada ser humano é capaz de resolver seus dramas e é responsável pelos seus feitos na vida, aceitamos fazer esse “distanciamento” mais facilmente, permitindo que ele seja e se comporte como queira, dando-nos também essa mesma liberdade.
(...) Viver impondo certa “distância psicológica” às pessoas e às coisas problemáticas, seja entes queridos difíceis, seja companheiros complicados, não significa que deixaremos de nos importar com eles, ou de amá-los ou de perdoar-lhes, mas sim que viveremos sem enlouquecer pela ânsia de tudo compreender, padecer, suportar e admitir.
Além do que, desligamento nos motiva ao perdão com maior facilidade, pelo grau de libertação mental, que nos induz a viver sintonizados em nossa própria vida e na plena afirmação positiva de que “tudo deverá tomar o curso certo”, se minha mente estiver em serenidade.
Compreendendo por fim que, ao promovermos “desconexão psicológica”, teremos sempre mais habilidade e disponibilidade para perceber o processo que há por trás dos comportamentos agressivos, o que nos permitirá não reagir da maneira como o fazíamos, mas olhar “como é e como está sendo feito nosso modo de nos relacionar com os outros. Isso nos leva, conseqüentemente, a começar a entender a “dinâmica do perdão”.
Uma das mais eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital contato com nós mesmos, desligando-nos de toda e qualquer “intrusão mental”, para logo em seguida buscar uma real empatia com as pessoas. Deixamos de ser vítimas de forças fora de nosso controle para transformar-nos em pessoas que criam sua própria realidade de vida, baseadas não nas críticas e ofensas do mundo, mas na sua percepção da verdade e na vontade própria.
 (Lição nº 5 da obra Renovando Atitudes – Francisco do Espírito Santo Neto pelo Espírito Hammed)

A mensagem da compaixão

Dentro da noite clara, a assembléia familiar em casa de Pedro centralizara-se no exame das dificuldades no trato com as pessoas.
Como estender os valores da Boa Nova? Como instalar o mesmo dom e a mesma bênção em mentalidades diversas entre si?
Findo o longo debate fraternal, em que Jesus se mantivera em pesado silêncio, João perguntou-lhe, preocupado:
— Senhor, que fazer diante da calúnia que nos dilacera o coração?
— Tem piedade do caluniador e trabalha no bem de todos — respondeu o Celeste Mentor, sorrindo —, porque o amor desfaz as trevas do mal e o serviço destrói a idéia desrespeitosa.
— Mestre — ajuntou Tiago, filho de Zebedeu —, e como agir perante aquele que nos ataca, brutalmente?
— Um homem que se conduz pela violência — acentuou o Cristo, bondoso —, deve estar louco ou envenenado. Auxiliemo-lo a refazer-se.
— Senhor — aduziu Judas, mostrando os olhos esfogueados —, e quando o homem que nos ofende se reveste de autoridade respeitável, qual seja a dum príncipe ou dum sacerdote, com todas as aparências do ordenador consciente e normal?
— A serpente pode ocultar-se num ramo de flores e há vermes que se habituam nos frutos de bela apresentação. O homem de elevada categoria que se revele violento e cruel é enfermo, ainda assim. Compadece-te dele, porque dorme num pesadelo de escuras ilusões, do qual será constrangido a despertar, um dia. Ampara-o como puderes e marcha em teu caminho, agindo na felicidade comum.
— Mestre, e quando a nossa casa é atormentada por um crime? Como procederei diante daquele que me atraiçoa a confiança, que me desonra o nome ou me ensangüenta o lar?
— Apieda-te do delinqüente de qualquer classe — elucidou Jesus — e não desejes violar a Lei que o próximo desrespeitou, porque o perseguidor e o criminoso de todas as situações carregam consigo abrasadora fogueira. Uma falta não resgata outra falta e o sangue não lava sangue. Perdoa e ajuda. O tempo está encarregado de retribuir a cada criatura, de acordo com o seu esforço.
— Mestre — atalhou Bartolomeu —, que fazer do juiz que nos condena com parcialidade?
— Tem compaixão dele e continua cooperando no bem de todos os que te cercam. Há sempre um juiz mais alto, analisando aqueles que censuram ou amaldiçoam e, além de um horizonte, outros horizontes se desdobram, mais dilatados e luminosos.
— Senhor — indagou Tadeu —, como proceder diante da mulher que amamos, quando se entrega às quedas morais?
— Jesus fitou-o com brandura, e inquiriu, por sua vez:
— Os sofrimentos íntimos que a dilaceram, dia e noite, não constituirão, por si só, aflitiva punição?
Fez-se balsâmico silêncio no círculo doméstico e, logo ao perceber que os aprendizes haviam cessado as interrogações, o Senhor concluiu:
— Se pretendemos banir os males do mundo, cultivemos o amor que se compadece no serviço que constrói para a felicidade de todos. Ninguém se engane. As horas são inflexíveis instrumentos da Lei que distribui a cada um, segundo as suas obras. Ninguém procure sanar um crime, praticando outros crimes, porque o tempo tudo transforma na Terra, operando com as labaredas do sofrimento ou com o gelo da morte.
(Extraído da obra “Jesus no Lar” - Lição nº 42 – Francisco C. Xavier/Néio Lúcio)

Autoperdão

“Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo...
“... porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor mesmo por uma ofensa leve, como quereis que Deus esqueça que, cada dia, tendes maior necessidade de indulgência?... “  (ESE Capítulo 10, item 15.)

Nossas reações perante a vida não acontecem em função apenas dos estímulos ou dos acontecimentos exteriores, mas também e sobretudo de como percebemos e julgamos interiormente esses mesmos estímulos e acontecimentos. Em verdade, captamos a realidade dos fatos com nossas mais íntimas percepções, desencadeando, conseqüentemente, peculiares emoções, que serão as bases de nossas condutas e reações comportamentais no futuro.
Portanto, nossa forma de avaliar e de reagir e, as atitudes que tomamos em relação aos outros, conceituando-os como bons ou maus, é determinada por um sistema de autocensura que se encontra estruturado em nossos “níveis de consciência” mais profundos.
Toda e qualquer postura que assumimos na vida se prende à maneira de como olhamos o mundo fora e dentro de nós, a qual pode nos levar a uma sensação íntima de realização ou de frustração, de contentamento ou de culpa, de perdão ou de punição, de acordo com o “código moral” modelado na intimidade de nosso psiquismo.
Esse “julgador interno” foi formado sobre as bases de conceitos que acumulamos nos tempos passados das vidas incontáveis, também com os pais atuais, com os ensinamentos de professores, com líderes religiosos, com o médico da família, com as autoridades políticas de expressão, com a sociedade enfim.
Também, de forma sutil e quase inconsciente, no contato com informações, ordens, histórias, superstições, preconceitos e tradições assimilados dos adultos com quem convivemos em longos períodos de nossa vida. Portanto, ele, o julgador interno, nem sempre condiz com a realidade perfeita das coisas.
Essa “consciência crítica”, que julga e cataloga nossos feitos, autocensurando ou auto-aprovando, influencia a criatura a agir do mesmo modo que os adultos agiram sobre ela quando criança, punindo-a, quando não se comportava da maneira como aprendeu a ser justa e correta; ou dando toda uma sensação de aprovação e reconforto, quando ela agia dentro das propostas que assimilou como sendo certas e decentes.
A gênese do não-perdão a si mesmo está baseada no tipo de informações e mensagens que acumulamos através das diversas fases de evolução de nossa existência de almas imortais.
Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e liberdade de acordo com os nossos valores, crenças, normas e regras, vigentes, podendo variar de indivíduo para indivíduo, conforme seu país, sexo, raça, classe social, formação familiar e fé religiosa. Entendemos assim que, para atingir o autoperdão, é necessário que reexaminemos nossas convicções profundas sobre a natureza do nosso próprio ser, estudando as leis da Vida Superior, bem como as raízes da educação que recebemos na infância, nesta existência.
Uma das grandes fontes de auto-agressão vem da busca apressada de perfeição absoluta, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas de um momento para outro. Aliás, a exigência de perfeição é considerada a pior inimiga da criatura, pois a leva a uma constante hostilidade contra si mesma, exigindo-lhe capacidades e habilidades que ela ainda não possui.
Se padrões muito severos de censura foram estabelecidos por pais perfeccionistas à criança, ou se lhe foi imposto um senso de justiça implacável, entre regulamentos disciplinadores e rígidos, provavelmente ela se tornará um adulto inflexível e irredutível para com os outros e para consigo mesmo.
(...) A desestima a nós próprios nasce quando não nos aceitamos como somos. Somente a auto-aceitação nos leva a sentir plena segurança ante os fatos e ocorrências do cotidiano, ainda que os indivíduos ao nosso redor não entendam nossas melhores intenções.
O perdão concede a paz de espírito, mas essa concessão nos escapará da alma se estivermos presos ao desejo de dirigir os passos de alguém, não respeitando o seu propósito de viver.
(...) Estabelecer padrões de comportamento e modelos idealizados para os nossos semelhantes é puro desrespeito e incompreensão ante o mecanismo da evolução espiritual. Admitir e aceitar os outros como eles são nos permite que eles nos admitam e nos aceitem como somos.
Perdoar-nos resulta no amor a nós mesmos – o pré-requisito para alcançarmos a plenitude do “bem viver”.
Perdoar-nos é não importar-nos com o que fomos, pois a renovação está no instante presente; o que importa é como somos hoje e qual é nossa determinação de buscar nosso progresso espiritual.
Perdoar-nos é conviver com a mais nítida realidade, não se distraindo com ilusões de que os outros e nós mesmos “deveríamos ser” algo que imaginamos ou fantasiamos.
Perdoar-nos é compreender que os que nos cercam são reflexos de nós mesmos, criações nossas que materializamos com nossos pensamentos e convicções íntimas.
O texto em estudo “Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo si mesmo” quer dizer: enquanto nos libertamos da necessidade de castigar e punir o próximo, não estaremos recebendo a dádiva da compreensão para o autoperdão.
Adaptando o excerto do apóstolo Paulo às nossas vidas, perguntamo-nos: “... porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor mesmo por   uma ofensa leve...”, como haveremos de criar oportunidades novas Adaptando o excerto do apóstolo Paulo às nossas vidas, perguntamo-nos: “... porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor mesmo por uma ofensa leve...”, como haveremos de criar oportunidades novas para que o  “Divino Processo da Vida” nos fecunde a alma com a plenitude do Amor e, assim, possamos perdoar-nos?


       (Extraído da obra “Renovando Atitudes”, lição 52, Francisco do Espírito Santo Neto pelo Espírito Hammed)

O Remédio Salutar

"Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros para que sareis." - (TIAGO, 5:16.)

A doença sempre constitui fantasma temível no campo humano, qual se a carne fosse tocada de maldição; entretanto, podemos afiançar que o número de enfermidades, essencialmente orgânicas, sem interferências psíquicas, é positivamente diminuto.
A maioria das moléstias procede da alma, das profundezas do ser. Não nos reportando à imensa caudal de provas expiatórias que invade inúmeras existências, em suas expressões fisiológicas, referimo-nos tão-somente às moléstias que surgem, de inesperado, com raízes no coração.
Quantas enfermidades pomposamente batizadas pela ciência médica não passam de estados vibratórios da mente em desequilíbrio?
Qualquer desarmonia interior atacará naturalmente o organismo em sua zona vulnerável. Um experimentar-lhe-á os efeitos no fígado, outro, nos rins e, ainda outro, no próprio sangue.
Em tese, todas as manifestações mórbidas se reduzem a desequilíbrio, desequilíbrio esse cuja causa repousa no mundo mental.
O grande apóstolo do Cristianismo nascente foi médico sábio, quando aconselhou a aproximação recíproca e a assistência mútua como remédios salutares. O ofensor que revela as próprias culpas, ante o ofendido, lança fora detritos psíquicos, aliviando o plano interno; quando oramos uns pelos outros, nossas mentes se unem, no círculo da intercessão espiritual, e, embora não se verifique o registro imediato em nossa consciência comum, há conversações silenciosas pelo "sem-fio" do pensamento.
A cura jamais chegará sem o reajustamento íntimo necessário, e quem deseje melhoras positivas, na senda de elevação, aplique o conselho de Tiago; nele, possuímos remédio salutar para que saremos na qualidade de enfermos encarnados ou desencarnados.
                      (Extraído da obra “Vinha de Luz”, lição 157 – Francisco C. Xavier/Emmanuel) 

A Sabedoria do Buda

O príncipe Sidharta, nascido na riqueza, transformou-se no Buda, o Ser desperto e iluminado. Ele abandonou o palácio de seu pai quando descobriu a existência do sofrimento e da tristeza no mundo.
Muitas e muitas histórias são contadas a respeito da vida e dos ensinamentos de Buda. Aqui esta uma delas:
Buda caminhava calmamente por uma densa floresta quando resolveu se sentar embaixo de uma linda árvore frutífera. Assim que ele cerrou os olhos, uma luz clara começou a emanar do seu corpo, um cheiro de frutas misturado com flores começou a se espalhar em torno do Mestre. A floresta inteira parecia paralisada, enfeitiçada com a presença do Ser desperto.
Próximo a floresta, um dos primos do Buda, Devadatta, sentindo a presença do Mestre, decidiu ir observá-lo. Devadatta era um homem perverso, invejoso e ciumento, que passava boa parte do tempo falando mal de Buda. A raiva e a inveja de Devadatta eram tamanhas que até matar o primo passava pelo seu pensamento.
Quanto Devadatta viu Buda sentado e meditando embaixo da árvore frutífera, foi tomado de um ódio mortal. Esperou o primo se levantar  e o seguiu.
Buda saiu da floresta e começou a andar numa estreita estrada; acima dele havia um pequeno penhasco. O maldoso Devadatta correu penhasco acima, olhou para baixo e decidiu que jogaria uma enorme pedra na cabeça de Buda.
Quando o Mestre passou bem abaixo de onde estava seu primo, este empurrou a enorme pedra. Quando Devadatta olhou para baixo, viu que a pedra tinha caído ao lado de Buda, que continuava com um ar sereno no rosto. Por dois segundos, os primos cruzaram o olhar, e Devadatta cruzou com seu primo Buda numa ruela perto do mercado principal.
- Bom dia, Devadatta – disse Buda, com um sorriso no rosto.
O primo perverso não entendeu por que Buda o estava cumprimentando, ainda por cima com um sorriso no rosto.
- Mestre, não está bravo comigo? – balbuciou Devadatta.
- Não, por que deveria estar? – perguntou Buda, com uma serenidade indescritível.
Devadatta estava confuso, e por poucos segundos encarou o olhar amável de seu primo iluminado.
- Mestre, não se recorda da pedra e do penhasco?
Buda deu três passos em direção ao primo, tomou-lhe a mão e respondeu:
Hoje você não é mais aquele que atirou a pedra em mim, e eu nem sou mais aquele que sentiu a pedra cair ao seu lado.
Devadatta sem saber o que dizer, abaixou a cabeça, afastou-se de Buda e desapareceu.
              
                     (Extraído da obra “As 14 Pérolas da Índia” I. Breman / I. Ziberman)